A multidão que participou do
milagre da multiplicação dos pães, na montanha, e, depois, seguiu Jesus
até Cafarnaum, acabou percebendo que Ele propôs algo novo. Pedem-lhe,
então, um sinal para crer, pois não entenderam o gesto da partilha.
Querem uma prova extraordinária como a de Moisés e o maná. É o apego do
Judaísmo às suas tradições, fechado à novidade de Jesus. Querem um
Messias poderoso, mesmo que seja opressor e explorador. Então, Cristo
revela a Sua verdadeira identidade, bem como a daqueles que O recebem
dignamente: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede” (Jo 6,35).
Ele é o verdadeiro Pão que desceu do céu.
Diferente do maná, alimento que Deus enviou por meio de Moisés, a fim
de avalizá-lo diante do povo como profeta enviado pelo Senhor. Mas Jesus
é o próprio Filho de Deus que se deu como alimento para os homens
peregrinos. É o primeiro e o último sinal. É a primeira e última Palavra
do Pai, por quem tudo começou a existir. Sem Ele nada seria criado nem
salvo. Por Ele todos nós alcançamos graça sobre graça, pois onde abundou
o pecado superabundou a graça de Deus.
Por duas vezes, no Evangelho de hoje,
repete-se o tema do maná no discurso de Jesus sobre o Pão da vida. É um
tipo ou referência fundamental para a comparação que se estabelece entre
Moisés e Jesus, entre o alimento que nos leva à morte e o Pão da vida
eterna. O maná apareceu para saciar a fome dos israelitas, perdidos no
deserto enquanto caminhavam, reclamando e com saudades das “cebolas do
Egito”. Infelizmente, a crença popular judaica esperava que, na era
messiânica, voltasse a repetir-se o “milagre” do maná. Jesus lhes faz um
desafio ao lhes apresentar não um pão, mas o Pão. Eis aqui um alimento
material que simboliza outro superior e mais completo: o Pão da vida que
é o próprio Cristo.
Por isso, Jesus instrui a multidão acerca de Sua verdadeira natureza: “Em
verdade, em verdade vos digo, não foi Moisés quem vos deu o pão que
veio do céu. É meu Pai que vos dá o verdadeiro pão do céu. Pois o pão de
Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo” (Jo 6,32-33).
A expressão “pão descido do céu” nos
remete, hoje, ao Pão Eucarístico, que é o Corpo de Jesus. Ele é o Pão da
vida. Então, as pessoas, de acordo com a interpretação material do pão
mencionado por Cristo – tal como a samaritana a respeito da Água Viva
(cf. Jo 4,14) – , dizem a Ele: “Senhor, dá-nos sempre desse pão” (Jo 6,34).
Esse pedido propicia a grande autorrevelação, na qual Jesus se identifica com o pão em questão: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede”.
Jesus é o alimento que, tal como a Água Viva, satisfaz para sempre a
fome e a sede daquele que n’Ele crê. É Ele quem alimenta a vida eterna
em nós por Sua Palavra, Seu amor e testemunho.
Assim, o sinal que devemos pedir e
receber, acolher de Deus, não deve ser outro senão o próprio Jesus. Ele é
o resgate e o cultivo da existência. É a transformação das pessoas que,
acolhendo o Seu amor, passam a ser também fonte de vida para outros.
Jesus deixa claro que as coisas do Alto
vêm do céu, vêm do Pai. É Ele quem dá o verdadeiro Pão do céu, aquele
que dá vida ao mundo. Este pão é Jesus. Quem O ouve se sensibiliza de
modo semelhante à samaritana, quando o Senhor lhe oferece a fonte
d’água, da qual quem dela beber nunca mais terá sede.
Os que ouviram as Palavras do Mestre pedem desse Pão para sempre. Como aquele povo, digamos, hoje, com fé: “Senhor, dá-nos sempre desse Pão”.
Padre Bantu Mendonça
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